A convergência à esquerda é um tema incontornável, dentro e
fora dos debates para a próxima convenção do Bloco de Esquerda. É assim porque
a sociedade o impôs, independentemente das agendas de partidos, sensibilidades
e da própria imprensa. O “povo de esquerda” e os trabalhadores, uma fatia
importante da população assalariada, pequenos empresários e agricultores estão
fartos do governo Sócrates e procuram, por todos os meios, uma forma de
livrar-se dele e das suas políticas. Seja através da luta, com centenas de
milhares nas ruas em 2008, seja por via eleitoral.
Texto de Cristina Portella e João Delgado, subscritores da Moção C
É esta a explicação para o crescimento do BE e do PCP nas
sondagens, para os famosos 1 milhão de votos recebidos por Manuel Alegre nas
últimas presidenciais, para o sucesso das duas iniciativas unitárias
protagonizadas pelo BE e Manuel Alegre e, ainda, para a abertura da
possibilidade – até há bem pouco tempo considerada remota – do mesmo Alegre vir
a abandonar o PS e formar um novo partido. É esta também a explicação de porque
os líderes políticos da esquerda de oposição ao governo passaram a defender
convergências à esquerda.
Mas de que convergências à esquerda se está a falar? A
defendida pela Moção C desde a última Convenção baseia-se num programa de
ruptura com o capitalismo e de oposição ao governo PS/Sócrates, que reúna o BE,
o PCP e a corrente liderada por Manuel Alegre. É evidente que esta unidade só
poderia incluir Manuel Alegre se este rompesse não só programaticamente com o
PS, mas também se desfiliasse deste partido. E é evidente que esta convergência
alargada está excluída para as eleições de 2009, também por responsabilidade da
direcção do BE.
A defendida pela Moção A, também desde a última Convenção,
pelo contrário, exclui o PCP, com o argumento de que este não quer a unidade, -
ao que o PCP responde sectariamente considerando que a convergência de esquerda
é a CDU - e inclui exclusivamente a ala
“alegrista”. De que forma? Em 2009, através da hipótese de coligações
autárquicas com movimentos “independentes” de cidadãos, na verdade organizações
regionais do MIC de Manuel Alegre, que poderão incluir militantes socialistas
possíveis apoiantes de Sócrates nas legislativas.
Para 2010,
a Moção A propõe “uma candidatura presidencial da convergência
mais ampla possível”. Ao nosso ver, esta adenda recentemente introduzida na
Moção A abre as portas a um entendimento com Manuel Alegre, sem definir
critérios programáticos ou a pré-condição da sua ruptura com o PS. Manuel
Alegre ainda não esclareceu a sua estratégia política, mas declarou que defende
o “diálogo à esquerda também com o PS” (Público, 13 de Janeiro).
Desta forma, a Moção A/direcção do BE dá sinais de que
escolheu um caminho perigoso para o nosso partido. Enquanto nos acusa,
injustamente, de querer a unidade a todo o custo com o PCP, abre as portas para
que o Bloco participe em convergências com quem não se demarca do PS /
Sócrates.
Esclarecer a política
de alianças através de critérios claros – e não endossar a
unidade-cheque-em-branco na qual o PS poderá entrar pela porta do cavalo – é
fundamental para que não tenhamos em 2009 e 2010 novos “acordos de
Lisboa”.
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