Os caça-fantasmas PDF Imprimir e-mail
20-Jan-2009

c.jpgAtribuir ao interlocutor ideias contrárias às que ele defende é uma táctica com alguma eficácia no debate mediático, onde o "soundbyte" é rei. Convenhamos que um debate entre moções do Bloco de Esquerda deve exigir de todos nós maior profundidade na análise e resposta política.

Texto de João Delgado, Subscritor da Moção C 

Vem isto a propósito de um artigo assinado pelo nosso camarada Jorge Costa no Debates 2, onde me atribui a "proclamação fantasmagórica de um governo alternativo", prosseguindo que o  "Bloco não pode responder às dificuldades das lutas populares semeando ilusões eleitoralistas e dizendo à população que tudo se resume a correr para um governo que não existe", nem "dizer aos trabalhadores que podem esperar pelas eleições e contar com um futuro governo que os vai salvar".
Esta interpretação de Jorge Costa foi replicada nos debates distritais do passado fim-de-semana, sintetizada numa ideia simples, mesmo simplória, a de que a Moção C defende um governo PCP/BE na sequência das eleições de 2009.
Esta teoria é tão despropositada, e tão falha de sustentação no que temos afirmado, que não há outro modo de repor a verdade além da reprodução do que já escrevi neste mesmo espaço , ou seja, a minha (a nossa) convicção de que "Cavaco Silva dará posse a um governo do partido mais votado – que tudo indica será o PS" e que, mesmo que as lutas sociais venham a derrubar esse governo, serão formuladas "outras hipóteses, com participação do PSD e/ou PP, em nome da 'governabilidade' do país". Em lado algum, portanto, colocámos a hipótese de resultar das eleições de 2009 qualquer governo de convergência à esquerda, porque isso seria, certamente, do domínio do onírico.
Facto diverso é a análise dos acontecimentos que nos trouxeram a esta situação de inevitabilidade de um governo PS, ou, em alternativa, da direita, mas essa linha está já formulada claramente no texto da Moção C, e penso ser desnecessário voltar a ela. Deixando aqui aos bloquistas, que não tenham ainda tido oportunidade de ler a nossa moção, a certeza de que o que defendemos, em termos de princípios, foi uma convergência eleitoral entre o Bloco de Esquerda, os sectores à esquerda do PS e o PCP, com suporte nos movimentos sociais, particularmente no movimento dos trabalhadores e na CGTP.
Deixando bem claro, mais uma vez, que essa convergência está impossibilitada para o futuro próximo, porque não houve das partes vontade de a construir, sendo que não confundimos a actuação da direcção do Bloco, que procurou pontes com os socialistas de esquerda e com algumas figuras da área comunista, não confundimos, dizia, com a posição do PCP que, ao contrário, se fechou sectariamente, pretendendo ser a única esquerda consequente, que manifestamente não é, até porque se recusa ao diálogo.
Para os que insistem em que temos uma obsessão com o PCP, lembremos que em momento algum apresentámos ou defendemos uma convergência reduzida a esse partido, tal como não aceitamos uma convergência direccionada, em exclusivo, à área socialista. A nossa ideia de convergência é ampla e não sectária, incluindo todos aqueles, sem excepção, que à esquerda defendem políticas alternativas e transformadoras.

 

 
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